fonte: ceticismo
A ciência, por definição, tem como função não só explicar os fenômenos naturais mas também prevê-los. Muitos foram previstos e posteriormente verificados experimentalmente ou na natureza.
Na ciência, as previsões não vem de pais-de-santo, Mãe Diná ou através de bolas de cristal. Os fenômenos são estudados e partir daí é possível indicar quando ocorrerão dentro de situações controladas ou na própria natureza.
Terremotos
Os terremotos ou sismos são causados pela liberação de grande quantidade de energia no interior da crosta e ocorrem geralmente devido ao movimento de placas tectônicas, atividade vulcânica, falhas no interior da placa etc.
Os fenômenos relacionados à atividade sísmica ainda não podem ser previstos através de um modelo científico confiável. Existem estudos que estão testando algumas hipóteses de previsão mas ainda são puramente especulativos.
Quando me refiro à previsão, significa estipular uma data específica que acontecerá um abalo. Isso, infelizmente, ainda é impossível devido à quantidade de variáveis envolvidas neste fenômeno. Algumas como resistência das rochas, temperatura e forças envolvidas na dinâmica das placas tectônicas são muito difíceis de mensurar com um grau razoável de confiabilidade.
Por enquanto, o que se pode afirmar é que os locais nas regiões de bordas de placas são mais propícios para a ocorrência de terremotos, representando aproximadamente 95% da atividade tectônica mundial. Digo “mais propícios” porque no interior das placas também acontecem sismos, por diversas razões: acomodação de terra, enchimento de grandes reservatórios de água (sismos desencadeados), falhas sismológicas (tensões tectônicas localizadas), atividade vulcânica etc. A atividade sísmica intraplaca representa cerca de 5% do total registrado no mundo.
O Brasil, por exemplo, se situa no meio da placa Sul-americana. Em nosso território são registrados dezenas de terremotos (apesar de os livros de geografia ainda ensinarem que não existe terremoto no Brasil) em diversos estados, em sua maioria de pequena magnitude e que não são sentidos pela população. Alguns relativamente raros, como os abalos ocorridos no Rio Grande do Norte nos dias 9 e 11 de janeiro deste ano, alcançaram magnitudes 3,0 e 3,8 mR* respectivamente e foram sentidos em diversas cidades como Natal e João Câmara (RN) havendo relatos de que foram sentidos também na Paraíba e em Pernambuco.
Em Itacarambi (MG), uma criança morreu em decorrência de um tremor que destruiu sua casa (a casa tinha estrutura frágil) sendo a primeira morte causada por terremoto que se tem notícia no país.
Em Porto dos Gaúchos (MT), ocorreu em 1955 um abalo de grande magnitude (levando em conta os sismos intraplaca), alcançando 6,6 pontos na escala Richter e felizmente ninguém sentiu por ser uma região desabitada na época.
Portanto, como não é possível “adivinhar” quando a terra vai tremer, é necessário que os governos tomem as devidas precauções a fim de evitar mortes e a população receba as informações necessárias.
O Japão segue fielmente essa cartilha. Lá, ocorrem abalos de grande magnitude com relativa frequencia, mas causam poucas vítimas fatais por conta da forte infraestrutura montada e dos estudos realizados para melhorar as construções.
A mídia e os charlatães
Todos ficam comovidos ao ver as consequencias de um terremoto e a imprensa acaba utilizando “representantes” das mais diversas “espécies exóticas” para se pronunciarem para a população.
Existem os da espécie “vidente” que dizem possuir poderes premonitórios marcando data e hora que tais desastres acontecerão ou dizendo já terem previsto (é muito fácil prever alguma coisa que já aconteceu, não é verdade?). Alguns mostram cartas registradas em cartório mostrando a veracidade do fato. Bem, levando-se em conta que é possível conseguir facilmente Identidade, CPF e Carteira de Trabalho falsos fica claro o valor desse documento.
Outros de uma espécie bastante comum e que se prolifera a ritmos alarmantes, são os “catastrofistas religiosos”. Estes, por sua vez, acham que todas os desastres naturais são causados pelos pecados do povo e que isso leva a crer (tem que crer mesmo) que são sinais do Armagedom (não, não é o filme do Bruce Willis).
Além desses, existem os “especialistas” que dão suas mais diversas hipóteses pseudocientíficas, falando de energias quânticas negativas (eles adoram a palavra “quântica”) das pessoas que se acumularam na região e que esse desequilíbrio causou a catástrofe.
A mídia (não só do Brasil) apresenta esses tipos para explorar o medo e a credulidade (entenda-se ignorância) da população em geral. Os meios de comunicação acabam por colocar a audiência acima da veracidade dos fatos. Afinal é a audiência que traz o dinheiro dos anunciantes. Isso é uma vergonha (créditos ao grande piadista, Boris Casoy), e as conseqüências todos já sabem.
*mR: escala de Magnitude Regional desenvolvida pelo Prof. Marcelo Assumpção, do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo. É utilizada para o território nacional e é equivalente à escala Richter para o Brasil.
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