quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Aproximando da Terra

Texto: Prof. Alberto Veloso (albertovveloso@gmail.com)


Dependendo do assunto uma distância de 28 mil quilômetros pode significar muito, outras nem tanto. Para perfazê-la teríamos de voar 30 vezes a rota Brasília-Rio, ou deslocar por mais da metade dos 40 mil quilômetros da circunferência da Terra. Mas ao entrarmos no campo da Astronomia tal distância representa muito pouco. No próximo 15 de fevereiro um asteroide batizado de 2012 DA 14, com cerca 50 m de diâmetro passará a 27.700 km da superfície terrestre, algo equivalente a 7% da distância média Terra-Lua - esta aproximação que é um recorde para objetos deste tamanho ocorrerá às 16h 26min, Hora de Brasília. O asteroide foi descoberto por astrônomos espanhóis há um ano e, desde então, vem se aproximando de nosso planeta, mas a NASA garante que estaremos livres de uma colisão, cujo poder destrutivo estaria pouco acima de mil bombas atômicas como a de Hiroshima, implicando tremendos problemas se eventualmente nos impactasse. Futuramente o 2012 DA 14 voltará a cruzar a órbita da Terra e talvez chegue ainda mais próximo de nossa superfície.

Acontecimentos como este nos relembra que o espaço exterior não é tão vazio e sereno como a primeira vista parece. Diariamente caem na superfície cerca de 40 toneladas de poeira cósmica, pois o nosso planeta funciona como um grande aspirador de pó sugando partículas que entram em seu campo de gravidade. Por sorte, nossa atmosfera age como um escudo protetor e destrói por fricção alguns bólidos que a penetram, como os meteoros, comumente chamados de estrelas cadentes. Mas aquele escudo não é perfeito e outros corpos celestes podem colidir com a Terra. 
 
O último exemplo importante foi o de Tunguska, na Sibéria, em junho de 1908. Na verdade não houve impacto na superfície, pois o cometa explodiu no ar e mesmo assim destruiu mais de 1.500 km2 de florestas. O efeito foi parecido a explosão de uma grande bomba nuclear (10-15 megatons; 1 megaton = 1 milhão de TNT) e o seu estampido foi detectado em Londres. As estatísticas da NASA indicam que episódios como os de Tunguska acontecem a intervalos de 100 anos, ao passo que impactos de corpos da ordem de quilômetros ocorrem em espaços de dezenas de milhões de anos. Neste caso uma explosão contra o solo ejetaria na atmosfera enorme quantidade de gás e poeira perturbando globalmente o clima e toda a espécie de vida existente. Uma recente extinção de espécies foi causada por um asteroide de 10-15 km que abriu na superfície uma cratera de 200 km de diâmetro em Chicxulub, no México, há 66 milhões de anos. O repentino desaparecimento dos dinossauros é creditado a tal evento, que também abriu espaço para o domínio dos mamíferos.

E o que dizer do Brasil?
Nossos pesquisadores já identificaram cinco crateras de impacto com diâmetros de 4 a 40 km. Curioso é que a maior delas, o domo de Araguainha, está a 500 km de Brasília, mas foi formada 240 milhões de anos atrás. Com outro pesquisador estimamos que aquele impacto na divisa dos atuais estados Goiás-Mato Grosso gerou um terremoto com magnitude ao redor de 11 – o maior sismo já registrado atingiu 9.5, no Chile, em 22/05/1960. Pesquisas conduzidas pelo autor mostraram que em 1889 uma área na fronteira São Paulo-Paraná foi estremecida por um abalo originado pela queda, ou explosão de um pequeno corpo celeste. Informações históricas apontam que em 11/12/1836 um “meteorito passou sobre o Ceará e explodiu sobre a vila de Macão, na entrada do rio Assú, derramando fragmentos de pedras, muitas das quais penetraram em casas e destruíram um gado”. Em 1971 durante uma excursão do curso de geologia da UnB foi encontrado um meteorito de quase 300 kg no município de Sanclerlândia, Goiás. Depois de viajar pelo espaço a velocidade hipersônica hoje ele jaz imóvel, mas em local de destaque no Museu de Geociências da UnB. A própria universidade é responsável pela operação de uma estação de infrassom capacitada a registrar a entrada de meteoritos na atmosfera, embora seu principal papel seja ajudar a vigiar o mundo das explosões nucleares.

Monitorar o espaço exterior é importante para identificar possíveis complicações e isso vem sendo feito oficialmente por vários países e também por astrônomos amadores. Assim, é possível prever a trajetória de um corpo extremamente perigoso com antecedência de anos. Na eventualidade de nos encontrarmos na inexorável mira de um deles, é de supor que a humanidade esqueça suas desavenças e congregue esforços e conhecimento científico para tentar evitar um cataclismo. É o mínimo que se espera.


Alberto Veloso é geólogo e autor do livro O terremoto que mexeu com o Brasil.

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