José Alberto Veloso
Se não há nada para comemorar, a data contém fatos significativos para relembrar. Há cinco anos, no dia 22 de abril de 2008, por volta das 21h, paulistas e paulistanos se surpreenderam com os efeitos de um terremoto de magnitude 5,2. Objetos caíram de armários, lustres balançaram, louças tilintaram e prédios trepidaram, levando pessoas a deixar seus apartamentos. Ocorreram rachaduras em paredes e outras avarias menores, mas ninguém se feriu com gravidade. Em Mogi das Cruzes, a vibração do chão deslocou uma adutora, deixando mais de 20 mil moradores sem água. Com menor intensidade, as ondas sísmicas chegaram a locais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. O terremoto nasceu em um ponto 17 km abaixo do nível do mar, quando parte de uma massa rochosa que vinha sendo deformada por forças geológicas atingiu seu limite de resistência e quebrou. A cidade mais próxima do epicentro, 125 km ao norte, deu nome ao evento: Sismo de São Vicente.
O estado paulista possui histórico de terremotos significativos e outros atrelados a fatos curiosos. No início de 1922, o que se comentava no meio cultural paulistano era a Semana de Arte Moderna, programada para fevereiro. Dias antes de tal evento sacudir a sociedade local e o meio artístico nacional, quem de fato tremeu, na madrugada de 27 de janeiro de 1922, foi a própria cidade de São Paulo, em decorrência do abalo de Mogi-Guaçu, de magnitude 5,1. Lá, casas racharam, outras deslocaram de seus alicerces e telhas foram ao chão. Na capital, uma pessoa morreu de ataque cardíaco, objetos de fachadas de prédios caíram nos passeios e o telhado de um prédio ruiu. O então presidente do estado, Washington Luís, pensou que fosse uma convulsão social com detonação de dinamite e colocou a força pública de prontidão. A Praça da República foi invadida por inúmeras senhoras e senhorias em trajes menores. No dia seguinte, trotes telefônicos anunciavam a iminência de outro abalo e, em revistas, surgiram charges e piadas.
O epicentro do abalo de 2008 foi na Bacia de Santos, que abriga campos petrolíferos em produção, reservas a explorar e mais a descobrir. Ocasionalmente, a exploração de gás/petróleo induz o surgimento de microsismicidade local e não seria surpresa presenciar tal fenômeno naquela região. Em outras palavras, certas ações do homem podem provocar terremotos, geralmente pequenos, como os da extração de gás na Holanda e na China. Entretanto, por sua localização distante do mais próximo campo em operação e com profundidade situada na crosta inferior, bem abaixo das rochas que alojam gás/petróleo, o tremor de 2008 não foi um evento induzido.
Existem casos brasileiros de sismos induzidos pela criação de reservatórios hidrelétricos e o autor estudou alguns deles, como os ocorridos nas décadas de 1970/80 nos reservatórios de Paraibuna e Paraitinga. O principal evento, em 16 de novembro de 1977, atingiu magnitude 3,4 e intensidade sísmica IVMM, alarmando a vizinhança que jamais sentiu a terra tremer, mas nada aconteceu à barragem. Curioso foi a sismicidade associada à extração de água subterrânea, em diferentes épocas, nas cidades de Fernando Prestes, Nuporanga e Bebedouro. A magnitude máxima registrada foi 3,2 e a intensidade IV-VMM.
Vale citar os efeitos de fortes terremotos que chamo de “importados”, pois seus epicentros estão fora do Brasil, particularmente na faixa andina. Mesmo percorrendo enormes distâncias, as ondas chegam com energia para oscilar prédios altos da capital paulista e os exemplos já se contam às dezenas. Eles assustam, mas nunca causaram danos expressivos e é bom que seja assim, pois continuarão acontecendo indefinidamente.
Além do estado de São Paulo, há tremores por todo o Brasil e alguns provocaram abandono temporário de cidades, derrubaram e danificaram construções, desabrigaram, feriram e mataram. Bem mais modesto do que o risco dos eventos pluviométricos intensos e prolongados, os terremotos, diferente do que muitos pensam, também podem trazer prejuízos ao Brasil.
fonte: UnBCiencia