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terça-feira, 4 de setembro de 2012
Muito além da Lua
»
ALBERTO VELOSO
Geólogo e autor do livro O terremoto que mexeu com o Brasil (albertovveloso@gmail.com)
Geólogo e autor do livro O terremoto que mexeu com o Brasil (albertovveloso@gmail.com)
Publicação:
04/09/2012 04:00
Fonte; Correio Brazilense
Sou da geração que
viu Neil Armstrong pisar na Lua. Com a morte dele, recordações
afloram, algumas relacionadas a Brasília. Em 20 de julho de 1969,
ouvimos, pela Voz da América, o comandante Armstrong anunciar que às
17h18, horário de Brasília, sua nave havia alunissado — “the
Eagle has landed”. Se aquilo já era emocionante, cerca de cinco
horas depois viria o melhor: as imagens de Neil e Edwin Aldrin
caminhando pela superfície lunar, em trajes brancos, com uma espécie
de mochila retangular às costas.
Naquele momento, encontrava-me em uma sala escura e silenciosa, com parentes e conhecidos, mirando apreensivo uma pequena TV que transmitia imagens em preto e branco. Repentinamente, a tensão foi quebrada pelas palavras de minha tia-avó Perina Goulart, dona da casa situada na W3 Sul: “Não acredito em nada disso que estão falando, pois não vejo nenhuma árvore, nem cachorro ou galinha andando por lá”. Com sua simplicidade e sinceridade, ela, como milhões de outras pessoas, demonstrava ceticismo sobre um dos mais extraordinários feitos do século 20.
Nem todos sabem, mas Armstrong esteve em Brasília com o colega Richard Gordon, cerca de três anos antes de ir à Lua. Durante um voo espacial, os dois astronautas tiveram sérios problemas, que não se transformaram em tragédia pela perícia de Armstrong no comando da nave. Tidos como heróis, o governo americano os enviou para um giro de boa amizade pela América Latina, e assim chegaram ao Brasil.
Em 17 de outubro de 1966, os dois astronautas proferiram palestra no auditório Dois Candangos, da UnB, completamente lotado de estudantes. Eu era um deles e, como os demais, nunca imaginaria estar próximo do primeiro homem que pisaria à Lua. Lembro que, em uma das vezes que a luz foi acesa após um filme, surgiu em um canto do auditório um cartaz com os dizeres: “Primeiro, paz na Terra; fora do Vietnã”. A faixa não ficou exposta por muito tempo e os visitantes, pelo menos naquele instante, não entenderam o significado da mensagem que expressava o sentimento estudantil sobre a guerra travada no longínquo país asiático. Anos depois, como outros residentes da cidade, tivemos a oportunidade de observar uma raridade para a época; uma minúscula amostra de rocha lunar no interior de um recipiente transparente, exposta no Teatro Nacional de Brasília.
Muito se debateu sobre o que levar como material de pesquisa na primeira missão à Lua, porque pesos e volumes precisavam ser minimizados ao extremo. Um dos poucos equipamentos escolhidos foi um sismógrafo, pois ele poderia dizer se o interior lunar ainda dava “sinais de vida”. Subsequentes voos instalaram mais sismógrafos, que comprovaram a existência de três diferentes tipos de lunamotos, os sismos lunares: os resultantes de impacto de meteoritos, ou de peças lançadas no solo lunar; os superficiais, com até 200km de profundidade; e os abalos mais numerosos, que também são os mais profundos, entre 800 a 1.100km — nossos maiores terremotos alcançam 700km.
Há mais comparações: os lunamotos rasos perduram por mais tempo, pois lá as rochas superficiais são mais secas e fraturadas e atenuam menos as ondas sísmicas. A maior magnitude de um lunamoto foi 5.0, aqui o terremoto foi 9.5. Lá, as velocidades sísmicas não aumentam gradualmente com a profundidade. Na crosta e, por todo o manto, os valores giram em torno de 7.6km/s; já na base do manto terrestre atingem 13km/s. A interpretação dos dados sísmicos mostrou que a Lua possuía crosta, manto, mas permanecia a dúvida se o seu núcleo pareceria ao terrestre. Só recentemente, pesquisadores americanos, utilizando técnicas modernas de sismologia em análise de dados coletados décadas atrás, confirmaram que a Lua tem núcleos interno e externo, similares aos da Terra.
Como o Universo, a mente humana não tem limites e o homem sempre olhará mais além. Marte é o alvo do momento e o ator principal da nova missão é o robô, muito apropriadamente chamado de Curiosity, um verdadeiro laboratório científico ambulante. Após viajar por mais de 500 milhões de quilômetros, ele pousou no interior de uma gigantesca cratera, cujas bordas de rochas horizontalizadas se elevam 5.5km em relação ao fundo. Ele explorará a região em busca de dados sobre a habitabilidade, o clima e a geologia do planeta. Com isso, o Curiosity estará adquirindo informações para futuras missões tripuladas e não tardará o dia em que um novo Neil Armstrong escreverá seu nome na história como o primeiro homem a pisar no Planeta Vermelho.
Naquele momento, encontrava-me em uma sala escura e silenciosa, com parentes e conhecidos, mirando apreensivo uma pequena TV que transmitia imagens em preto e branco. Repentinamente, a tensão foi quebrada pelas palavras de minha tia-avó Perina Goulart, dona da casa situada na W3 Sul: “Não acredito em nada disso que estão falando, pois não vejo nenhuma árvore, nem cachorro ou galinha andando por lá”. Com sua simplicidade e sinceridade, ela, como milhões de outras pessoas, demonstrava ceticismo sobre um dos mais extraordinários feitos do século 20.
Nem todos sabem, mas Armstrong esteve em Brasília com o colega Richard Gordon, cerca de três anos antes de ir à Lua. Durante um voo espacial, os dois astronautas tiveram sérios problemas, que não se transformaram em tragédia pela perícia de Armstrong no comando da nave. Tidos como heróis, o governo americano os enviou para um giro de boa amizade pela América Latina, e assim chegaram ao Brasil.
Em 17 de outubro de 1966, os dois astronautas proferiram palestra no auditório Dois Candangos, da UnB, completamente lotado de estudantes. Eu era um deles e, como os demais, nunca imaginaria estar próximo do primeiro homem que pisaria à Lua. Lembro que, em uma das vezes que a luz foi acesa após um filme, surgiu em um canto do auditório um cartaz com os dizeres: “Primeiro, paz na Terra; fora do Vietnã”. A faixa não ficou exposta por muito tempo e os visitantes, pelo menos naquele instante, não entenderam o significado da mensagem que expressava o sentimento estudantil sobre a guerra travada no longínquo país asiático. Anos depois, como outros residentes da cidade, tivemos a oportunidade de observar uma raridade para a época; uma minúscula amostra de rocha lunar no interior de um recipiente transparente, exposta no Teatro Nacional de Brasília.
Muito se debateu sobre o que levar como material de pesquisa na primeira missão à Lua, porque pesos e volumes precisavam ser minimizados ao extremo. Um dos poucos equipamentos escolhidos foi um sismógrafo, pois ele poderia dizer se o interior lunar ainda dava “sinais de vida”. Subsequentes voos instalaram mais sismógrafos, que comprovaram a existência de três diferentes tipos de lunamotos, os sismos lunares: os resultantes de impacto de meteoritos, ou de peças lançadas no solo lunar; os superficiais, com até 200km de profundidade; e os abalos mais numerosos, que também são os mais profundos, entre 800 a 1.100km — nossos maiores terremotos alcançam 700km.
Há mais comparações: os lunamotos rasos perduram por mais tempo, pois lá as rochas superficiais são mais secas e fraturadas e atenuam menos as ondas sísmicas. A maior magnitude de um lunamoto foi 5.0, aqui o terremoto foi 9.5. Lá, as velocidades sísmicas não aumentam gradualmente com a profundidade. Na crosta e, por todo o manto, os valores giram em torno de 7.6km/s; já na base do manto terrestre atingem 13km/s. A interpretação dos dados sísmicos mostrou que a Lua possuía crosta, manto, mas permanecia a dúvida se o seu núcleo pareceria ao terrestre. Só recentemente, pesquisadores americanos, utilizando técnicas modernas de sismologia em análise de dados coletados décadas atrás, confirmaram que a Lua tem núcleos interno e externo, similares aos da Terra.
Como o Universo, a mente humana não tem limites e o homem sempre olhará mais além. Marte é o alvo do momento e o ator principal da nova missão é o robô, muito apropriadamente chamado de Curiosity, um verdadeiro laboratório científico ambulante. Após viajar por mais de 500 milhões de quilômetros, ele pousou no interior de uma gigantesca cratera, cujas bordas de rochas horizontalizadas se elevam 5.5km em relação ao fundo. Ele explorará a região em busca de dados sobre a habitabilidade, o clima e a geologia do planeta. Com isso, o Curiosity estará adquirindo informações para futuras missões tripuladas e não tardará o dia em que um novo Neil Armstrong escreverá seu nome na história como o primeiro homem a pisar no Planeta Vermelho.
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