Texto: Prof. Alberto Veloso (
albertovveloso@gmail.com)
Dependendo do assunto uma distância de 28 mil
quilômetros pode significar muito, outras nem tanto. Para perfazê-la
teríamos de voar 30 vezes a rota Brasília-Rio, ou deslocar por mais
da metade dos 40 mil quilômetros da circunferência da Terra. Mas ao
entrarmos no campo da Astronomia tal distância representa muito
pouco. No próximo 15 de fevereiro um asteroide batizado de 2012 DA
14, com cerca 50 m de diâmetro passará a 27.700 km da superfície
terrestre, algo equivalente a 7% da distância média Terra-Lua -
esta aproximação que é um recorde para objetos deste tamanho
ocorrerá às 16h 26min, Hora de Brasília. O asteroide foi
descoberto por astrônomos espanhóis há um ano e, desde então, vem
se aproximando de nosso planeta, mas a NASA garante que estaremos
livres de uma colisão, cujo poder destrutivo estaria pouco acima de
mil bombas atômicas como a de Hiroshima, implicando tremendos
problemas se eventualmente nos impactasse. Futuramente o 2012 DA 14
voltará a cruzar a órbita da Terra e talvez chegue ainda mais
próximo de nossa superfície.
Acontecimentos como este nos relembra que o espaço
exterior não é tão vazio e sereno como a primeira vista parece.
Diariamente caem na superfície cerca de 40 toneladas de poeira
cósmica, pois o nosso planeta funciona como um grande aspirador de
pó sugando partículas que entram em seu campo de gravidade. Por
sorte, nossa atmosfera age como um escudo protetor e destrói por
fricção alguns bólidos que a penetram, como os meteoros, comumente
chamados de estrelas cadentes. Mas aquele escudo não é perfeito e
outros corpos celestes podem colidir com a Terra.
O último exemplo importante foi o de Tunguska, na
Sibéria, em junho de 1908. Na verdade não houve impacto na
superfície, pois o cometa explodiu no ar e mesmo assim destruiu mais
de 1.500 km2
de florestas. O efeito foi parecido a explosão de uma grande bomba
nuclear (10-15 megatons; 1 megaton = 1 milhão de TNT) e o seu
estampido foi detectado em Londres. As estatísticas da NASA indicam
que episódios como os de Tunguska acontecem a intervalos de 100
anos, ao passo que impactos de corpos da ordem de quilômetros
ocorrem em espaços de dezenas de milhões de anos. Neste caso uma
explosão contra o solo ejetaria na atmosfera enorme quantidade de
gás e poeira perturbando globalmente o clima e toda a espécie de
vida existente. Uma recente extinção de espécies foi causada por
um asteroide de 10-15 km que abriu na superfície uma cratera de 200
km de diâmetro em Chicxulub, no México, há 66 milhões de anos. O
repentino desaparecimento dos dinossauros é creditado a tal evento,
que também abriu espaço para o domínio dos mamíferos.
E o que dizer do Brasil?
Nossos pesquisadores já identificaram cinco
crateras de impacto com diâmetros de 4 a 40 km. Curioso é que a
maior delas, o domo de Araguainha, está a 500 km de Brasília, mas
foi formada 240 milhões de anos atrás. Com outro pesquisador
estimamos que aquele impacto na divisa dos atuais estados Goiás-Mato
Grosso gerou um terremoto com magnitude ao redor de 11 – o maior
sismo já registrado atingiu 9.5, no Chile, em 22/05/1960. Pesquisas
conduzidas pelo autor mostraram que em 1889 uma área na fronteira
São Paulo-Paraná foi estremecida por um abalo originado pela queda,
ou explosão de um pequeno corpo celeste. Informações históricas
apontam que em 11/12/1836 um “meteorito
passou sobre o Ceará e explodiu sobre a vila de Macão, na entrada
do rio Assú, derramando fragmentos de pedras, muitas das quais
penetraram em casas e destruíram um gado”.
Em 1971 durante uma excursão do curso de geologia da UnB foi
encontrado um meteorito de quase 300 kg no município
de Sanclerlândia, Goiás. Depois de viajar pelo espaço a velocidade
hipersônica hoje ele jaz imóvel, mas em local de destaque no Museu
de Geociências da UnB. A própria universidade é responsável pela
operação de uma estação de infrassom capacitada a registrar a
entrada de meteoritos na atmosfera, embora seu principal papel seja
ajudar a vigiar o mundo das explosões nucleares.
Monitorar o espaço exterior é importante para
identificar possíveis complicações e isso vem sendo feito
oficialmente por vários países e também por astrônomos amadores.
Assim, é possível prever a trajetória de um corpo extremamente
perigoso com antecedência de anos. Na eventualidade de nos
encontrarmos na inexorável mira de um deles, é de supor que a
humanidade esqueça suas desavenças e congregue esforços e
conhecimento científico para tentar evitar um cataclismo. É o
mínimo que se espera.
Alberto Veloso é
geólogo e autor do livro O terremoto
que mexeu com o Brasil.